domingo, 31 de janeiro de 2010

e tudo continuou...

Bem, depois de chegar em casa na sexta a noite, resolvi pesquisar na internet sobre o festival Thaipusam e descobri que o tal festival duraria o dia seguinte inteiro. Mudanca de planos é comigo mesma! Ao invés de ir para o Zoo, resolvi ficar pela vizinhança, já que moro em Little India e o festival é celebrado nesse bairro.

Acordei e fui para um templo. Na entrada vi algo que me foi muito familiar por alguns meses quando estive na Índia: um mundaréu de sapatos deixados do lado de fora do templo, já que nao se pode entrar calçado.
Brechó?
Parei ali perto dos sapatos e descobri que ali nao era a entrada do templo, e sim a saida dos devotos. E novamente, como na sexta a noite, o que eu vi foram as coisas mais loucas da minha vida (superando as de sexta).

Nao tenho como descrever o que era. Eram homens carregando ornamentos em homenagem aos deuses hindus nas costas. Ornamentos que pesam muito (ouvi falar de 15 a 20 quilos). E ornamentos com pequenas lanás perfurando o corpo dos devotos. Sim, o corpo TODO perfurado por lanças, carregando um ornamento de 20 quilos, tendo que andar mais ou menos 4km. A maior devoçao que ja presenciei, sem dúvidas.
ai!
A medida em que cada devoto saía do templo, amigos e/ou familiares batucavam e/ou cantavam/entoavam mantras e o devoto começava a dançar. No portao de saída do templo, um membro da familia pegava um coco, acendia uma vela nele e fazia uma oraçao enquanto "benzia" a pessoa(nao tenho termo menos cristao para isso). Depois, jogava o coco com toda forca na lixeira. E dai começava a caminhada rumo a um outro templo, a mais ou menos 4 km dali. Devo ter visto uns 20, 25 devotos com o corpo furado. Dentre eles dois jovens de uns 14 anos mais ou menos e uma crianca de uns 10 anos.

nada de sangue!
Assim que descobri que era permitido entrar no templo para ver os rituais iniciais, é claro que entrei. Presenciei entao, no meio de uma multidao de devotos com suas familias e turistas com suas maquinas fotográficas, o momento em que um devoto ia ser espetado. Gente, fiquei chocada e me deu vontade de chorar. Com certeza a pessoa sente MUITA dor. Apesar disso, a expressao do devoto que eu acompanhei era de uma mistura de dor com serenidade. E nao vi sangue nenhum. Enquanto alguns familiares enfiavam as lanças no homem, uma mulher rezava e depois dela alguns homens entoavam mantras. Tudo isso misturado a batucadas que outras familias estavam fazendo para outros devotos. É uma coisa hipnotizante. Eu nao teria saído de lá se nao fosse pela minha amiga, que estava passando mal.

devoto sendo espetado

lanças (ou vel)
Sei que muitas pessoas nao aguentariam ver o que eu vi e muitas tambem julgariam quem estava lá participando dos rituais. Eu nao. Eu sou a pessoa mais feliz do mundo por ter tido a oportunidade de presenciar esse festival tao importante na vida de tanta gente. Estou maravilhada com a Ásia. De novo e sempre.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tinha tudo para ser um dia normal...


Hoje tinha tudo para ser um dia bem normal. Acordei, fui pro trabalho, tive meu Break, trabalhei e resolvi sair pra naiti, já que hoje é sexta.Combinei de sair com uma amiga alemã, um brasuca e uma chinesa. Chegamos no barzinho, era ate legal, mas sabe quando não tem nada de mais?

Assim, pelo cansaço que eu estava, algo tinha que me chamar a atenção. Podia ser musica boa, um cara gato, mas eu estava sentindo falta daquele tchans! Enfim, o tal do tchans não veio e resolvemos, eu e a alemã que mora comigo, ir para casa.

Pegamos um taxi (sim, voltamos de madruga para casa de taxi - não tem busao de noite e o taxi eh extremamente barato - coisa pra outro post) e assim que entramos na avenida principal de Litlle India, que e o bairro onde moro, percebemos que algo acontecia. Do outro lado da rua havia MUITA gente vestida de amarelo com algo em cima da cabeça. Perguntamos ao taxista o que era aquilo e ele disse ser alguma passeata ou procissão (com o singlish dele foi o que conseguimos entender).

Comecei a ficar intrigada com aquele tanto de gente andando com uns vasinhos na cabeça e pedi pro taxista parar. Falei para a alemã que seria melhor seguirmos dali a pé para casa, para tentarmos ver o que estava acontecendo. O relato abaixo está tão confuso e cheio de informações quanto a minha mente na hora em que desci do taxi:

grao-de-bico e arroz de graca. vai ai?

Pessoas vestidas de amarelo e laranja, segurando pequenos vasos em cima da cabeça, entoando mantras e cantando. Pés descalços. Famílias inteiras, juntas em procissão. Crianças, jovens, adultos, velhos, pessoas em cadeiras de roda. Pessoas em transe. Homens e mulheres com a cabeça raspada. Caminhonetes enfeitadas. Homens e mulheres levando pequenos altares em seus ombros. Pessoas fazendo comida na rua. Homens com ganchos perfurando seus corpos, puxando altares em forma de carrinhos. Pessoas com a cabeça pintada de amarelo e com o rosto pintado.Caminhonetes tocando musica a todo volume. Pessoas com as sobrancelhas, língua, bochechas, costas, peito perfurados por enfeites. Pessoas dando comida de graça na rua. Pessoas com limões pendurados no corpo.

ai meu Thapusam!

Sério, essa procissão foi uma das coisas mais impressionantes que eu já vi na minha vida. Não da pra explicar, não consigo mostrar em fotos nem em vídeos. Acho que não da pra sentir nem mesmo tendo visto com meus próprios olhos. Tem que ser Hindu, acreditar e estar la para entender.

Bem, vamos à parte informativa do blog: a procissão faz parte de um festival chamado THAIPUSAM. O Thaipusam é um festival celebrado pela comunidade Tamil (pessoas originárias do estado de Tamil Nadu, na Índia), na lua cheia do mês chamado THAI do calendário Tamil. Esse festival é celebrado tanto na Índia quanto no sudeste asiático. Aqui em Cingapura há uma das maiores celebrações, assim como na Malásia e nas ilhas Mauricio.

a galera fica quietinha, quietinha...

O festival comemora o aniversário de Murugan ou Subramaniam, o filho mais novo de Shiva e Parvati e também comemora a ocasião em que Parvati deu a Murugan uma lança para que ele pudesse acabar com o demônio Soorapadman. (roubado e mal traduzido da WIKIPÉDIA).

Enfim, depois de toda essa explicação consigo entender mais ou menos a procissão. Eu realmente queria começar uma discussão aqui sobre procissões, religiões e rituais, e como em qualquer lugar do mundo temos isso (para citar só os que me lembro agorinha há a peregrinação para Meca, há procissões para Aparecida do Norte, há o caminho de Santiago de Compostela e há até uma procissão que eu já tomei parte, a de Pirapora do bom Jesus – caminhei 40 km de Itu até lá quando tinha uns 14 anos), mas to com muita coisa na cabeça pra fazer isso agora. Ainda to digerindo o que vi/senti.

São cinco e meia da manhã e não consigo dormir em pensar na diversidade cultural do mundo. Sou uma pessoa mais completa e feliz porque tive e tenho a oportunidade de ver o que vi hoje.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O dia-a-a dia ao contrário

Pra variar andei pensando em uma coisa: como certas coisas que sao muito diferentes, depois de certo tempo ficam comuns. O primeiro impacto de algo que é estranho a voce pode chocar, pode te fazer rir, mas sempre causa uma certa estranheza. É obvio. Mas e quando aquela coisa estranha se torna comum? Isso já nao é tao obvio, pois eu creio que tem certas coisas que sempre nos causarao estranheza. E é aqui que eu começo a falar de uma coisa muito comum na Ásia, mas que ainda me causa estranheza: a direcao do lado direito.

ai, to do lado errado!

Me lembro que na minha primeira grande viagem internacional fui pra India e fiquei bem confusa com o tráfego por la. É claro que a India nao serve de base, porque creio que as pessoas la nao ligam muito para leis de transito, entao, se tiverem que ultrapassar tanto pela direita, quanto pela esquerda, vao fazer.

Na minha segunda vinda a Asia, acabei nao andando muito de carro, portanto a direcao nao me chamou muito a atencao.

Dessa vez, pela terceira vez nesse continente, a direcao "ao contrario" voltou a ser uma coisa que me causa estranheza. Ja chegando no aeroporto, eu, minha mae e meu irmao pedimos um taxi para irmos até o hostel. Malas no porta-malas, mulherada com sacolas no banco de tras e guilherme no banco da frente. Aonde ele entra? No lado do motorista. O chines ate brincou com ele perguntando se ele queria dirigir (chines fanfarrao!). Eu, como boa irma, e achando que era A experiente em Ásia, zuei meu irmao. E tudo bem.

Ate que me pego um dia falando para minha mae: "nossa, mas como tem mulher dirigindo aqui e Cingapura! Um exemplo!" Exemplo? As mulheres estao do lado esquerdo, Gabriela, do lado do passageiro! E atravessar a rua? Juro que a gente se confunde pra que lado devemos olhar!

Agora, a coisa que mais tenho que me acostumar é o lado da escada rolante. Sabe quando voce ta numa escada rolante e ncosta em um dos lados para quem quiser subir mais rapido passe? Entao, aqui voce tem que ficar do lado esquerdo. A ultrapassagem aqui é pela direita! E se voce fica parado do lado errado, quem ta com pressa sai bufando! Alias, as experiencias com escadas rolantes, elevadores e esteiras rolantes é assunto para outro post inteiro!

sai da frente! to ultrapassando! (pela direita)
Com certeza com o tempo a estranheza dos lados vai passar, porque vivo andando a pé e de táxi (que por aqui é baratissimo!), mas e quando eu for pro Brasil? Será que vou virar canhota de novo?